quarta-feira, 13 de abril de 2016

Semanário

A crise europeia não se deve aos refugiados que buscam a segurança e prosperidade do nosso continente. Mas há mais em comum entre a nossa união e os refugiados que a procuram. Para começar, também a união europeia parece perdida em alto mar. Encontra-se num barco de borracha, à procura de terra firme. Também aqui, os direitos e liberdades parecem ameaçados, embora de forma menos veemente e mais dissimulada. De certa forma, os refugiados encontram na Europa muito daquilo a que fogem nos seus países de origem.
Aqui chegados, entrando maioritariamente pela rota dos Balcãs, os refugiados encontram muros, barreiras e arame farpado. Deparam-se ainda com muitos dos que partilham uma história de violência e perseguições “amontoados” em condições que faziam os arquitectos do projecto europeu sentirem vergonha do estado a que as coisas chegaram. Mas como é que as coisas chegaram a este ponto?
A crise financeira de 2008 colocou a nu as debilidades de um sistema providencialista incapaz de se alimentar a si próprio. O estado social foi posto em causa. Ainda está. E os europeus perceberam que os seus valores e perspectivas de prosperidade estavam a ruir.
Estas condicionantes ajudaram a transformar a visão que os cidadãos europeus tinham da sua união. A sua consolidação foi posta em causa e os nacionalismos cresceram num terreno fértil em animosidades. Os eurocépticos cresceram em força e alguns europeístas decidiram adoptar medidas das forças extremistas, de forma a tentar conter a sangria de votos que eram transferidos para essas forças políticas. Foi a junção do pior de dois mundos.
Assim chegamos à Europa dos dias de hoje. Dos ódios cultivados pelo populismo e a demagogia, da redução das liberdades e da caça às diferenças.

Por tudo isto, a pergunta que devemos fazer é a seguinte: é esta a Europa que queremos para o futuro? Se a resposta for negativa, devemos perceber o que estamos dispostos a fazer para mudar o seu rumo.

terça-feira, 1 de março de 2016

Semanário

Nos últimos tempos fomos surpreendidos por um debate sobre um tema que promete fazer correr muita tinta. Já o faz.
O debate sobre a eutanásia e o suicídio assistido é trazido para a luz do dia por um manifesto que junta personalidades de vários quadrantes da sociedade civil. De uma forma resumida, este é um manifesto que se bate por uma alteração à lei (ou despenalização) que, na sua opinião, permitirá uma maior liberdade de escolha a um cidadão que, em situações de excepção, pode optar por pôr termo à vida.
Desde já afirmo que não tenho ainda opinião formada em relação a este assunto, mas sou favorável a um debate sério e a uma troca de opiniões sobre o tema. Observo ainda com agrado, que a sociedade civil também não foge ao debate daquela que é talvez, uma das mais fraturantes questões debatida nos últimos anos. E finalmente, porque o debate está a ser feito fora da esfera partidária. A situação político-partidária nacional encontra-se num clima de crispação elevado, que não trará nada de positivo ao debate. Acho ainda que, qualquer tentativa de levar este assunto apressadamente para discussão no parlamento deva ser considerada populista ou eleitoralista. Nenhum partido ousou até ao aparecimento do manifesto emitir opinião sobre o assunto. Por isso penso que o tema deve continuar a ser debatido na esfera pública, como de resto vai acontecendo. O debate é também importante antes de se pensar sequer em referendar o assunto. Fará com que as pessoas possam fazer escolhas mais informadas, e possivelmente, afastará o voto partidário usual nos referendos em Portugal.
É errado tentar fugir ao debate baseado na argumentação da falta de qualidade/quantidade de unidades de cuidados paliativos ou continuados. É certo que necessitamos de melhorar o acesso a estes serviços, mas isso não pode servir de argumento para não se debater o assunto em questão. Até porque a morte é a única coisa certa após o nascimento. A liberdade, a qualidade e o tempo de vida de cada ser humano é que são variáveis.
 Não defendo o direito a uma morte medicamente assistida, defendo apenas que debater o assunto, obter um conjunto diferenciado de opiniões e reflectir sobre os dados disponíveis levarão a escolhas mais informadas. E possivelmente a melhores escolhas.




domingo, 21 de fevereiro de 2016

Semanário

Os movimentos sindicais são responsáveis pelo equilibrar de forças entre entidades patronais e os respectivos trabalhadores. São um marco importante na relação de forças entre direitos e deveres do trabalhador comum. Mas a proliferação de entidades sindicais veio desvirtuar o seu carácter social mais abrangente, transformando-o numa luta sectorial. Agora, fica a sensação de que a luta pelo equilíbrio das regras laborais se transformou numa disputa entre funcionários públicos e funcionários do sector privado, para dar apenas um exemplo. Mais gravoso ainda, é o facto de as reivindicações, na ideia destes movimentos, terem que ser satisfeitas no imediato, sejam quais forem as consequências. Exemplo disso é a revindicação das 35 horas de trabalho na função pública, que na opinião sindical, devem entrar em vigor no imediato. Na minha opinião, esta é uma medida justa, que visará uma maior motivação dos funcionários na sua relação com o trabalho. Tão justa que deveria ser o caminho seguido por todos os sectores de trabalho no país, e não apenas a funcionários públicos. Como é óbvio, terá que ser o estado a dar o exemplo.
Exemplo também, mas pela negativa, poderá ser o episódio ocorrido no dia da avaliação dos professores.
Concordando ou não com a medida, ou com a forma como foi aplicada, a imagem desrespeitosa que determinados professores deixaram, impedindo ou perturbando aqueles que, por necessidade ou “obrigação” se dispuseram a realizar a mesma.


É uma imagem nítida da radicalização que estas organizações têm vindo a sofrer, e que em nada contribuem para um debate sério e informado. Deixam também a ideia de uma certa partidarização dos movimentos sindicais, que deveriam ser primariamente sociais.

Semanário



À esquerda do PS vivem-se tempos inéditos. Habitualmente designados de “partidos de protesto” a esquerda radical fica na oposição, mas deu um contributo imprescindível para a tradução desta nova “maioria minoritária” que para já governa. E governa com o acordo da maioria do parlamento.
Aos primeiros sinais desta possibilidade de governo, o fantasma grego pairou sobre o país que teima em afirmar que não é a Grécia, e que vê na Irlanda o bom aluno a ter como referência. Este fantasma chegou sob a hipótese de “pasokisação” do Partido Socialista, e o consequente desaparecimento deste do sistema partidário nacional. Mas pouco se falou das possíveis consequências negativas que poderá trazer à esquerda do PS. É que as consequências de uma governação desadequada e/ou desastrosa deste governo, poderá arrasar com toda a esquerda portuguesa, e não apenas com parte dela. Com este passo, e apesar de ter ficado às portas da governação, os partidos que suportam o governo, terão também responsabilidades no rumo que o país vai levar. Não podem mais apontar para os problemas sem fazer parte de uma solução. Agora, não vão apenas prestar “contas” ao seu eleitorado. E o seu eleitorado poderá passar a incluir mais do que os votos de protesto e dos fiéis militantes e simpatizantes. Dependerá de como retribuírem a confiança dada pelos eleitores nas últimas legislativas.
Assentes na confiança de mais de 50% dos 5.408.805 portugueses que foram às urnas no passado dia 4 de Outubro, estes partidos proporcionaram uma nova possibilidade politica. Abriram a porta a uma nova governação, demonstrando que as alianças políticas não se esgotam no centro-direita ou no bloco central.

Se será bom ou mau para o país só poderemos aferir no final desta governação. E para já, não há data marcada.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Semanário

Dizem que os reality shows estão a passar de moda. Como nunca fui um interessado na matéria, tardo em perceber se me causa indiferença ou felicidade. Mas não sendo a primeira vez que tentam vaticinar o fim de tão estranho formato televisivo, vou esperar para ver.
Aos sinais do princípio do fim, trouxeram-nos os famosos em casas e quintas, que nos entraram por casa dentro, 24 horas por dia, através do pequeno ecrã. Agora, vão nos acenando com famosos que quase ninguém conhece para ver se a coisa aguenta. Só que nas últimas semanas assistimos a um novo tipo de reality show: a escolha de um inquilino para ocupar São Bento. Este processo já conheceu votações, indigitações, indicações e nomeações no seu formato. Já existiram também duas moções de rejeição, com resultados opostos.
Os primeiros inquilinos desta legislatura tiveram que sair à pressa. O seu novo ocupante tinha pressa, mas teve que esperar para entrar. Da casa de Belém, com muita relutância, veio a autorização para a mudança. Só que também este inquilino tem as malas à porta e um conjunto de candidatos para ocupar o seu lugar. Mas este processo só tem data marcada para finais de Janeiro.
No processo que agora termina ouvimos argumentos repetidos até à exaustão por ambas as partes, como se no final ganhasse quem falou mais, ou mais alto. Entretanto o jogo das cadeiras desenrolou-se e temos novos protagonistas. Será que para representar os mesmos papéis?
Da nova oposição, ouvimos que o novo inquilino não deve contar com eles quando a coisa der para o torto, deixando a expressão “Portugal à Frente” vazia de significado.




Naquele que foi um programa com episódios a mais o país foi divagando na incerteza, mas com a certeza de que quer mais e melhor. Que consegue mais e melhor. Por isso, precisamos de uma governação séria, com boas políticas. Porque das outras e de reality shows já estamos mais do que servidos.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Semanário

  A direita deve estar louca. Louca porque, quase dois meses após as eleições legislativas, ainda não percebeu se perdeu ganhando, ou ganhou perdendo. Todo este ruído político que temos vivido desde 4 de Outubro esconde o que mais substancial ocorreu com esta nova constituição parlamentar: a clarificação de que neste tipo de eleições, vamos às urnas para escolher deputados para a assembleia da república. Um discurso que não assente neste pressuposto apenas visa manter o bipartidarismo em Portugal ou a manutenção do estatuto de arco da governação.
Na minha opinião, a maioria das pessoas que votou na CDU ou no Bloco não estava à espera de eleger Jerónimo de Sousa ou Catarina Martins para primeiro-ministro. Esperavam sim, com o seu voto, eleger deputados desses mesmos partidos para os representar na casa da democracia. Isto estende-se também às pessoas que como eu, votaram em partidos que não conseguiram votos suficientes para eleger deputados. Com o meu voto não esperava escolher directamente um primeiro-ministro.
No entanto à esquerda, o discurso da eleição de deputados que posteriormente irão legitimar, ou não, um governo, só existe por conveniência politica. Acho que caso contrário seria um não assunto.
Ou seja, vivemos um tempo político difícil. A situação da nossa jovem democracia é nova no nosso quadro parlamentar, mas não é nem ilegítima nem constitui um golpe PRECiano como já foi afirmado. Este é um tempo onde a proliferação de assessores de imprensa não impediu a linguagem política de resvalar para a crispação tornando-se ameaçadoramente desrespeitosa, chegando por vezes a roçar o ridículo. Onde a verdade e a mentira deixam de ser água e azeite para se misturarem em meias verdades e meias mentiras, sendo difícil descortinar onde uma começa e a outra termina.

Para terminar, gostaria de apontar o caso da devolução da sobretaxa de IRS. Um coelho tirado da cartola em plena campanha eleitoral, que agora bateu com a porta. É aquilo que antes de ser já não o era, e um exemplo das meias verdades misturadas com meias mentiras que mencionei no parágrafo anterior.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Semanário...

Não nos podemos deixar levar pelo medo. Muito menos deve ser a vingança a trilhar o nosso caminho. Os atentados de Paris têm um nome, mas não adjectivos que o caracterizem. São o resultado do fim da humanidade dentro do ser humano. Não foi a primeira vez, não vai ser a última.
O mundo já conhecia a forma de actuar deste grupo no médio oriente. Já tinha tido a oportunidade de observar os vídeos de propaganda de gente que não merece ser tratada como tal. Mas eles planeiam trazer o seu terror para a Europa. Já começaram.
Na minha opinião, os atentados têm dois objectivos primordiais: criar/aumentar o preconceito sobre os Muçulmanos para que estes sejam rejeitados, ou pior, mal tratados pelo ocidente, e utilizar posteriormente esse comportamento na sua propaganda, de forma a captar mais gente para as suas fileiras.
Não podemos permitir que eles mudem o que somos e o projecto de sociedade que temos. Isto não é uma luta cultural ou religiosa. É a procura do poder a qualquer custo.
Hoje, a única coisa que importa ter em mente é que as pessoas que atravessam as fronteiras para entrar na Europa fazem-no para fugir às mesmas pessoas que orquestraram os atentados de Paris. E, apesar de terem ocorrido na capital francesa, os atentados não são de Paris. São contra todo o mundo civilizado que respeita e valoriza a vida humana. São também o dia-a-dia de algumas cidades da Síria e do Iraque.
A guerra dos fanáticos do DAESH, Estado Islâmico (EI), Estado Islâmico da Síria e do Iraque (ISIS) ou do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIL) não é contra outras culturas, outras religiões ou formas de estar e de ser na vida. É contra tudo que não seja o pensamento único, o deles. Não são assim tão diferentes dos nacionalismos ultrapassados que surgem agora no nosso continente, são apenas mais violentos, para já.


Depois de Paris, o auxílio aos refugiados é a única resposta possível, já o era anteriormente. Se também nós perdermos a dignidade e o respeito pela vida humana, deixamos de ser diferentes dos monstros que agora criticamos.