A crise europeia não se
deve aos refugiados que buscam a segurança e prosperidade do nosso continente.
Mas há mais em comum entre a nossa união e os refugiados que a procuram. Para
começar, também a união europeia parece perdida em alto mar. Encontra-se num
barco de borracha, à procura de terra firme. Também aqui, os direitos e
liberdades parecem ameaçados, embora de forma menos veemente e mais
dissimulada. De certa forma, os refugiados encontram na Europa muito
daquilo a que fogem nos seus países de origem.
Aqui chegados, entrando
maioritariamente pela rota dos Balcãs, os refugiados encontram muros, barreiras
e arame farpado. Deparam-se ainda com muitos dos que partilham uma história de
violência e perseguições “amontoados” em condições que faziam os arquitectos do
projecto europeu sentirem vergonha do estado a que as coisas chegaram. Mas
como é que as coisas chegaram a este ponto?
A crise financeira de 2008
colocou a nu as debilidades de um sistema providencialista incapaz de se
alimentar a si próprio. O estado social foi posto em causa. Ainda está. E os
europeus perceberam que os seus valores e perspectivas de prosperidade estavam
a ruir.
Estas condicionantes
ajudaram a transformar a visão que os cidadãos europeus tinham da sua união. A
sua consolidação foi posta em causa e os nacionalismos cresceram num terreno
fértil em animosidades. Os eurocépticos cresceram em força e alguns europeístas
decidiram adoptar medidas das forças extremistas, de forma a tentar conter a
sangria de votos que eram transferidos para essas forças políticas. Foi a
junção do pior de dois mundos.
Assim chegamos à Europa dos
dias de hoje. Dos ódios cultivados pelo populismo e a demagogia, da redução das
liberdades e da caça às diferenças.
Por tudo isto, a pergunta que devemos fazer é a seguinte: é esta a
Europa que queremos para o futuro? Se a resposta for negativa, devemos perceber
o que estamos dispostos a fazer para mudar o seu rumo.